terça-feira, 29 de abril de 2008

A Novidade

A falta do que fazer gera textos como esse ai :P

Caio e Fernando eram dois amigos de longa data que trabalharam juntos num Banco durante 10 anos. Mas Caio acabou recebendo uma ótima proposta de um Banco em outro estado e saiu de lá. Já fazia mais de um ano que eles não se viam. Mas numa bela tarde de sexta quando Fernando estava no supermercado fazendo algumas compras que sua mulher o havia forçado a fazer, viu Caio andando com um carrinho a umas cinco sessões a sua frente.

- Caio seu filho da mãe – gritou Fernando com um sorriso no rosto, atraindo para si todos os olhares do supermercado que estavam por ali – O que você está fazendo por aqui e porque não me ligou caralho?

- Puta que pariu – gritou Caio. E dessa vez os olhares assustados das pessoas que estavam por ali se viraram para ele. – Caio seu desgraçado, que bom te ver - Um dos homens que assistia a cena falou algo quase inaudível que soou como: Que povo maluco! Alguns mantiveram essa frase como pensamento. E outros, como uma senhora de idade apenas se viraram e continuaram com suas compras.

Depois de se aproximarem um do outro a conversa continuou, mas dessa vez num tom um pouco mais baixo.

- Pô cara, é muito bom te rever – falou Fernando com outro sorriso – Mas porque você não me ligou avisando que vinha pra cá?

- Cara, eu cheguei praticamente agora. Vim porque a Clarinha precisava resolver umas pendências. Ai eu deixei as coisas na casa da sogra e vim aqui fazer umas compras pro jantar. Ia te ligar assim que chegasse em casa. Mas já vou embora amanha. Pegar no pesado na segunda. Cê sabe, né

- Sei, sei. Mas e as novas? Como anda o trabalho?

- Cara, ta tudo tranqüilo por lá. Muito bom o ambiente de trabalho do Banco de lá. Já me adaptei e agora é que o negocio ta começando a andar a passos largos.

- Entendo. Que bom que ta dando tudo certo pra você. Eu lembro que você saiu daqui meio que preocupado, né?

- Foi, cara. Cidade nova, casa nova. É meio complicado. Cê sabe?

- Sei, sei.

- Mas e as novas aqui? Ta tudo na mesma lá no Banco?

- Bicho, continua mesma coisa de sempre lá no Banco. Mas tu num vai acreditar no que aconteceu – falou Fernando com uma cara de espanto.

- Como assim eu não vou acreditar – disse Caio que começava a ficar preocupado.

- Putz, cara. É melhor nem te contar, porque você não vai acreditar mesmo. É muito sem noção.

- Porra cara, você ta começando a me deixar preocupado, Fernão. Falo logo, cacete. Alguém do banco morreu, foi despedido. Desembucha logo, homi – exclamou Caio.

- Nada cara. Isso até seria normal. Mas o que aconteceu é muito mais impressionante do que isso.

- Porra, cara. Cê quer me matar de curiosidade mesmo é, caralho?

- Mas é porque é muito impressionante.

- Sua mulher pegou uma doença grave? Seu filho?

- Pô, Caio, vira essa boca pra lá. Mas se qualquer forma isso ainda seria normal pra o que aconteceu.

- Ah, bicho vai tomar nesse teu rabo ou então fala logo que eu não agüento mais esse suspense – falou Caio, começando a ficar irritado.

- Calma caramba. Vou contar então – disse Fernando - Caio não disse nada. Apenas ficou olhando pra ele, esperando a revelação daquela coisa que tinha acontecido.

- Sabe o Joilson que trabalhava como atendente de caixa lá no banco? Aquele gordão que mal conseguia andar.

- Sei, sei. Que tem ele? Ficou magro – Caio falou olhando com uma cara de espanto para Fernando.

- Nada cara. Muito pior.

-...

- Se lembra que ele era uma perna de pau do caralho naquela peladinha que tinha no clube todo domingo?

- Hum...

- Pois é, cara. E num é que semana passada ele fez um gol. E bonito, visse? Deu um chutão de fora da área e acertar o canto do gol.

-... – Caio continou calado, mas fez uma cara de espanto tão grande que parecia que seus olhos iam pular a qualquer momento do seu rosto.

Momentos de silêncio total se passaram até que Caio falou. Na verdade gritou:

- PUTA QUE PARIU - e novamente teve a atenção toda do supermercado centrada nele. E então continuou: – Isso é sério mesmo?

- É cara. Num to te falando. O filho da mãe do gordão fez um gol depois de 4 anos de existência da pelada. Os caras fizeram até uma placa e depois uma festa pra comemorar – nessa hora Caio caiu na gargalhada e logo em seguida Fernando.

- Porra, nunca imaginei isso na minha vida – exclamou Caio. Mas um dia tinha que acontecer, né?

- Pois é...

- Mas enfim, tenho que ir, porque se eu me demorar muito a muie vai pensar que eu to pulando a cerca – falou Caio dando um sorriso. Cê sabe como a Clarinha é. Ô mulher ciumenta.

- Beleza então, cara. Mas vamos marcar pra pelo menos tomar uma cervejinha amanha de manhã e botar o papo em dia. Eu levo Kátia junto pra fazer companhia a Clarinha.

- Vou falar com a Clarinha, mas acho que não vai ter muito problema não.

- Então ta. Até amanhã então. Eu te ligo mais tarde. E foi um prazer rever você, cara.

- Foi um prazer te rever também. Até amanha.

FIM

terça-feira, 22 de abril de 2008

Frase da semana (2)

"É fácil amar os que estão longe. Mas nem sempre é fácil amar os que vivem ao nosso lado." (Madre Teresa de Calcutá)

Muito interessante essa frase.

domingo, 20 de abril de 2008

Assassino à Solta

Conto originalmente publicado no Câmara dos Seis

Depois de anos finalmente Carlos pode comemorar seu primeiro final de semana em casa sozinho. Seus pais viajaram com seu irmão na quinta da manhã, e só voltariam no domingo a noite. A viagem de 8 horas era bem cansativa, então tinham que sair cedo pra usufruir o máximo. Eles iam aproveitar o feriadão pra fazerem mergulho. Era o passatempo preferido da familia. Sempre que podiam iam pra Capital só pra mergulharem, já que no interior isso era impossivel. Pedro, grande amigo da familia, depois ter ido uma vez e ter gostado, toda vez que tinha oportunidade ia junto com eles.

Carlos geralmente também ia, apesar de não gostar muito. Também ele não tinha muito o que fazer em casa sozinho. Mas agora que o namoro tava começando a esquentar, ele tinha motivos e decidiu ficar em casa mesmo. Ele e Ana tinham começado a transar havia mais ou menos duas semanas, depois de quase um ano de namoro. A moça tinha apenas 16 anos e até então era virgem. Mas depois de tanta insistência do namorado resolveu ceder ao seu pedido.

Os pais não gostaram muito da idéia de Carlos ficar em casa, mas não podiam fazer nada. Ele já tinha 20 anos e confiavam muito nele. “Não faça nenhuma besteira, Doutor Carlos” Essas foram as ultimas palavras do Senhor Luis, antes de pegarem a estrada. O pai de Carlos, sempre chamava ele de Doutor, já que em 3 anos ia se formar em medicina. Carlos só fez acenar um tchau e correu pra dentro de casa pra esperar a ligação da namorada.

Carlos tinha ligado pra Ana na quarta a noite, avisando da iminente viagem e queria que ela viesse passar o fim de semana com ele. Pediu pra ela estar até finalzinho da tarde, porque queria aproveitar o máximo. E também porque ele ia preparar o jantar. Ana disse que ia falar com o pai dela, dizendo que ia pra casa de sua melhor amiga. A Carol. Vez ou outra, elas revezavam passar o final de semana uma na casa da outra, então não seria problema.
Na sexta de manhã, pouco depois dos pais de Carlos viajarem, Ana ligou dizendo que estava tudo confirmado e que até as 18 horas estaria na casa de Carlos. Ele obviamente se animou todo e começou a fazer os preparativos para a primeira noite do feriadão.

Pouco depois do almoço, Carlos foi no supermercado comprar os suprimentos para o jantar. Comprou tudo do bom do melhor. O melhor vinho, o melhor macarrão, o melhor molho... Queria que a noite fosse perfeita. E seria, se não fosse o assassino à solta.

As 18 em ponto, Ana chegou na casa de carlos. Ele tinha acabado de começar a preparar o jantar e pediu que ela esperasse na sala assistindo TV. Queria fazer surpresa sobre o que estava fazendo, mas o cheiro e a convivência com carlos, não deixaram mentir qual seria o menu do jantar. “Macarronada”. Foi o primeiro pensamento que ela teve. Deu uma risada pra si mesma e foi pra sala de TV. Ela colocou na globo e começou a assistir a novela das 6.

Depois de 20 minutos o jantar ficou pronto. Eles foram pra mesa de jantar, mas a TV continuou ligada. Pouco antes de acabarem de jantar, soou aquela velha e conhecida musiquinha do plantão da globo. Ana já era assustada com essas coisas e foi logo correndo pra frente da TV pra ver o que tinha acontecido. Carlos nem ligou, mas acompanhou a namorada.

“Assassino local foge da prisão, deixando duas pessoas mortas e outras 3 feridas. Umas delas ja foi encaminhada pra o hospital com hemorragia interna. As outras duas tiveram ferimentos leves e foram medicadas no local. João das facas, como é conhecido nas redondezas, por usar-se apenas de facas para matar suas vitimas, já cometeu vários crimes graves, e cumpria 30 anos de prisão. Ninguém sabe como ele conseguiu escapar. Um dos policiais afirmou que João tinha contato com um dos guardas na prisão, e que depois do toque recolher, ele devia ter entregado a chave para João. Pois não se via nenhum sinal de arrombamento. Por enquanto só são especulações, mas o delegado local já começou uma investigação interna para apurar o ocorrido. Mais informações sobre o caso, logo após a novela das 7 no Jornal Nacional. Agora cotinuemos com a programação normal”.

1 minuto depois que acabou a manchete, Ana ainda estava de boca aberta, totalmente atônita. Carlos tentou acalmá-la dizendo que em pouco tempo o tal assassino seria preso novamente. Mas Ana não acreditou muito. Ou não acreditou em nada, porque logo depois pediu pra Carlos deixá-la em casa. Estava muito assustada e no momento preferia ficar com os pais. Carlos se aborreceu, mas conversou na boa com ela. Depois de uns 20 minutos, Carlos finalmente conseguiu convecer Ana a ficar. Mas ela disse logo que não rolaria nada está noite. Não tinha clima. “Lá se foi meu feriadão”, pensou Carlos. Mas amanhã seria um outro dia e quem sabe, ou guardas já tivessem preso o assasino. Ou simplesmente ela ja estivesse mais calma.

As 22 horas logo após o final da novela das 8, eles foram dormir. O clima tava pesado e Carlos não via a hora daquela noite acabar logo.
Lá pra meia noite, Ana acordou com um pulo da cama, por causa de um barulho que parecia vir da porta principal. O barulho não era “Toc”, “Toc”. Era “PA!!!”, “PA!!!”. Como se tivessem tentando arrombar a porta. Entre os “PA!!!” “PA!!!” podia se ouvir uma pessoa com uma voz rouca falando. As palavras soavam praticamente inaudiveis.
Ana começou a cutucar Carlos e depois de umas boas cutudas, quase derrubando o garoto da cama, ele acordou. “O que é?” ele perguntou furioso. “Shiii. Tem alguém tentando arrombar a casa. Acho que é o tal assasino que apareceu no jornal”. Nessa hora o barulho tinha cessado. “Não estou ouvindo nada mulher”, Carlos falou novamente furioso e virou-se pro lado tentando voltar a dormir. Antes de Ana começar a cutucar novamente, os barulhos voltaram, agora mais altos. Dessa vez quem deu um pulo da cama foi Carlos. “Eu num disse”. “Eu num disse”. Foi só o que Ana conseguia falar toda se tremendo de baixo dos lençois.

Carlos por um momento pareceu estar em estado catatônico e precisou levar um tapa no braço pra voltar a realidade. Ele não sabia o que pensar. Não sabia o que fazer. Tinha uma porra de um assassino sanguinário na frente de sua casa, prestes a invadi-lá e matar os moradores. No caso eles.
“Faça algu..” Ana foi impedida por Carlos com uma mão na sua boca, depois de ver que o barulho havia cessado novamente. “Shiii”, foi só o que ele disse.
As batidas agora eram na janela no quarto Carlos. Mais furiosas do que nunca. A voz também havia retornado. Mas ainda praticamente inaudivel. Carlos ja estava se encaminhando pra sala, pra ligar pra policia, quando ouviu as batidas no quarto de seus pais. O quarto que ele estava com Ana, e que tinha acabado de deixar ela lá. Dessa vez Ana não aguentou e começou a gritar. Isso já era demais pra ela. “Socorro!! Não me mate, por favor. Eu tenho apenas de 16 anos. Tenho muito que viver ainda”. Carlos correu pro quarto pra ver o que tinha ocorrido. Ana estava encolhida na parede se tremendo. Se tremia tanto que parecia uma batedeira. O homem começou a falar novamente. Mas só o que Carlos ouviu graças a gritaria de ana foi a palavra “Matar”. Se não bastasse toda aquela situação, em que o pior não podia acontecer.... Uma pedra é atirada contra a janela de vidro do quarto. Os gritos agora eram mais altos do que nunca.

O homem começou a subir a janela do quarto escuro, retirando os pedaços de vidro que ainda restavam na janela. Ele tentava falar alguma coisa, mas as palavras se perdiam no meio das de Ana. Dessa vez Carlos não viu saida. Ou fazia alguma coisa ou morria. Pegou uma pedra de cristal que sua mãe tanto gostava, da cabeceira da cama e atirou em direção a janela. O homem “sem face”, pois devido a escuridão e a fraca luz da lua, era impossivel reconhecê-lo, foi surpreeendido com uma pedra bem no meio da sua testa. Ele desabou na hora. Nem se Carlos tivesse mirado, ele tinha acertado naquele lugar. Ana começara a se levantar, mas ainda estava muito assustada.

Rapidamente Carlos foi acender a luz pra ver a cara do safado do assasino. “Te peguei otário”, ele falou com voz de quem tinha acabado de vencer Gólias, ele sendo David. Mas para sua total supresa não era o assassino sanguinário que estava no seu quarto. Não era o João das Facas. E sim o seu irmão que agora estava estirado inconsciente no chão. Ele soltou um “puta que pariu” e foi correndo ligar pra uma ambulância vir rapidamente. Ana sussurrou um “Meu Deus” totalmente chocada com a situação, e foi correndo pra ver como estava Bruno. Poucos minutos depois a ambulância chegou e foram pra hospital.
No outro dia no hospital, depois de Bruno ter sido devidamente medicado, foi explicada toda situação. Bruno levou apenas alguns pontos e em torno de algumas semanas estaria novinho em folha novamente.

Carlos falou da manchete do jornal, dizendo que um assasino perigoso estava solta e que por isso tinha agido daquela forma. Carlos não precisou perguntar a Bruno, porque ele não tinha falado em vez de ter arrombado a casa. Bruno que já estava com uma leve gripe, tinha piorado com a viagem e agora mal conseguiu falar. Ai, resolveu voltar pra casa aproveitando carona com Pedro, que teve que voltar as pressas pra resolver um problema urgente no trabalho.

FIM

Aluno é acusado de terrorismo por ameaçar matar Chuck Norris

E mais uma seção para o blog: Mondo Bizarro. Vou postar uma noticia que eu achar a mais bizarra pelo menos uma vez por semana. E a primeira:

Um jovem de 16 anos de uma escola em Pennsauken, em Nova Jersey, parece ter esquecido o significado do ditado "Matar Chuck Norris não faz com que ele morra, só o deixa mais bravo". O garoto foi descoberto com uma lista de pessoas que ele supostamente tentaria matar e incluiu, além de três alunos e um funcionário da escola, o nome do ator norte-americano.

O jornal "Philadelphia Inquirer" informa que o adolescente foi enquadrado na política de "tolerância zero" da escola, que fez uma blitz nesta terça (8). Um porta-voz do colégio teria dito que "as crianças não vão tomar conta do prédio".

O garoto foi suspenso por "ameaças terroristas" e pode ser expulso. Segundo o jornal, a polícia não encontrou armas com ele.


Fonte: GLOBO.COM

O cara foi ameaçar logo o Chuck Norris de morte. PQP! Acho que o cara não deve ter lido as verdades sobre o Chuck Norris que circulam na internet. Ou então achou que era brincadeira :P

sábado, 19 de abril de 2008

Frase da semana (1)

Vou tentar colocar uma frase toda semana, na tentativa de movimentar um pouco mais esse blog.

E a primeira é:

Um homem é o menos provavél de se tornar grande quanto mais ele for dominado pela razão: Poucos conseguem alcançar a grandeza - e nenhum na arte - se eles não são dominados pela ilusão.


Nota de aviso escrita pelo Mr. Doctor, quando ele estava a procura de membros para formar o Devil Doll.

Uma das melhores frases de todos os tempos, na minha opinião.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

O Fim do Mundo Como Você Nunca Imaginou Antes

São dezenas, talvez centenas as teorias criadas para um possível fim do mundo. Dizem que o mundo será destruído por um cometa, ou por maremotos, ou terremotos, furacões, desastres da natureza em geral. Ou mesmo até por guerras entre os homens, ou quem sabe num futuro muito distante as maquinas realmente tomem conta de tudo como no filme Exterminador do Futuro. Desastres nucleares, armas biológicas e um vírus letal que se espalha rapidamente pelo ar também são citados. Enfim, muitas e muitas teorias são criadas. Mas a que será contada a seguir está completamente fora dos padrões. Pelo menos nunca vi algo parecido até hoje.

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Lisa Misandro era aquela típica mãe dona de casa e estava entretida com seu assado de carne que preparava para o almoço, quando os acontecimentos mais estranhos daquele mundo começavam a acontecer na cidade de Cow’s Ville, no Canadá. Ela abriu o forno e o cheiro gostoso do assado invadiu a cozinha. Deu uma respirada funda para tentar inalar todo o vapor que saia, e pegou um garfo para ver como estava à consistência da carne. Assim que ela pegou o garfo, um pequeno tremor iniciou e suas porcelanas e as pratarias queridas, penduradas numa estante, tremiam e ameaçam cair a qualquer momento. Lisa se desesperou e começou a rezar para que o tremor parasse. Mas achou estranho, pois ali nunca tinha terremoto. Mas o que a preocupou mesmo era o tempo que ela não teria para tirar tanta coisa em cima das estantes, caso o tremor piorasse. Coisas que ela tinha desde o inicio do casamento há mais de 20 anos, e que ela prezava muito. As pratarias se salvariam, mas as porcelanas assim que caíssem no chão seriam impossíveis de serem reaproveitadas.

Todd, que tinha apenas 5 anos, brincava com um aviãozinho de madeira perto da janela da cozinha. Ele foi o primeiro naquela quadra a ver a causa do tremor. Todos pareciam estar preocupados com alguma coisa naquele momento. Ou em salvar alguma coisa de alguma possível quebra, em rezar para que tudo passasse ou apenas fazendo alguma coisa inútil como assistir algum programa de TV. Mas o que é que uma criança daquela idade tinha para se preocupar a não ser brincar com seu aviãozinho, ou para ver a estranha manada de vacas que invadia a cidade.

Mamãe, vacas, olha, exclamou Todd. Lisa ignorou seu filho de forma grosseira e como viu que o terremoto parecia aumentar, tratou de tentar salvar suas porcelanas. Mas já era tarde demais. Assim que ela colocou a mão no primeiro prato, o tremor aumentou furiosamente e os outros pratos, junto com xícaras e copos começaram a cair feito uma avalanche.

Mas mamãe, olha, tem um monte de vaquinhas na rua, ele tornou a dizer. Ela olhou para o pequeno Todd e dessa vez gritou de forma furiosa com seu filho: Eu quero lá saber da porra dessas vacas. Nessa hora um barulho infernal de mugidos de milhares de vacas invadiu a cidade explodindo as janelas das casas e tudo que fosse de vidro frágil. Lisa se arrepiou por completo e tentou ir em direção a janela para ver o que estava acontecendo, mas quando começou a andar, foi atingida na cabeça por um bule e desmaiou. O pequeno Todd estava sozinho em casa, porque seu pai estava no trabalho, e não imaginava nem de longe a confusão que estava metido. Alguns minutos depois Todd seria morto por atropelamento. O pandemônio estava apenas começando.

As milhares de vacas que vinham de todos os lugares invadiam a cidade de forma veloz e insana e por onde passavam destruíam tudo. O povo que circulava pela rua era atropelado e morto sem muitas chances. Os poucos que escapavam para dentro de casas e lojas eram rapidamente caçados pelas vacas. Sim, a inteligência das vacas parecia ter aumentado de forma gigantesca e pareciam também saber como os humanos viviam. Porque agora elas não apenas caçavam os que fugiam, mas também entravam na casa dos que nem tinham saído. Gritos de socorro, medo e dor ecoavam por todo canto da cidade se misturavam com o mugido insano das vacas, que entravam e saiam das casas com troféus humanos. Cabeças, braços e pernas eram decepados não apenas por atropelamento, mas também por suas bocas que mordiam furiosamente cada parte do corpo dos humanos.

Não demorou nem uma hora para que o jornal local transmite-se as noticias sobre o que chamariam de o “ataque das vacas loucas”. E também para o resto país e em muito pouco tempo para todo o mundo. Um helicóptero transmitia ao vivo de Cow’s Ville, a cidade com a maior criação de vacas do mundo, e possivelmente o foco inicial do ataque. Mostrava as cenas chocantes de milhares de vacas destruindo toda cidade e matando o povo que morava nela. E pelo que parecia não demoraria muito para aquela cidade sumir do mapa. A cidade que sentia o maior orgulhoso por ser conhecida pela imensa quantidade de vacas que tinha, ia ser mandada para fora do mapa exatamente por elas. Que ironia, hein? Uma semana depois, todos os canais estariam fora do ar, assim como toda a cidade. E as vacas iniciariam a debandada para outros locais.

Cow’s Ville não era o único lugar onde as vacas começaram a atacar. Outros ataques progressivamente começavam em todos os lugares no mundo que havia vacas. Muitas teorias começaram a ser criadas do porque as vacas estarem atacando alucinadas dessa forma. A que mais vingou foi a da famosa doença da vaca louca. Mas com pouco menos de um mês de testes numa vaca capturada pelo exercito, ela foi descartada. Não parecia ter nada a ver, apesar de ter sintomas parecidos. Ninguém realmente sabia por que as vacas estavam fazendo isso. Mas em pouco tempo isso não ia fazer a mínima falta.

Em Madrid na Espanha, um homem que devia ter seus 50 anos, com uma barba grande e preta e braços gordos, olhava incrédulo da sua varanda as milhares de vacas destruindo tudo no que passavam. Então ele viu uma delas parando, e por incrível que pareça, ele pensou, ela o olhou. E por incrível que pareça, ele pensou novamente, ela o olhou de forma maligna. E sem pestanejar arrombou a porta da casa e a invadiu. Santiago ficou muito intrigado e assustado com aquela história, mas achou por bem não facilitar. Pegou seu rifle que ficava guardado no seu armário, carregou e colocou algumas balas de reserva no bolso da calça. O barulho e a destruição já haviam começado na sua casa mesmo antes de ele começar a pegar o rifle.

Ele saiu do quarto em direção a escada sempre com o rifle apontado para frente e quando chegou lá deu de cara com a escada toda despedaça e vaca o encarando. Por certo ela tinha tentado subir, mas por causa do seu peso e tamanho não teve êxito e acabou por quebrar a escada. Santiago encarou a vaca mostrando seu rifle, e ela o encarou de volta e deu um mugido furioso como se dissesse: “Eu vou te pegar de qualquer jeito”. Ele obviamente não entendeu nada, mas não quis dar chance para ela. Então, mirou o rifle na cabeça dela e puxou o gatilho. A cabeça da vaca explodiu quase que instantaneamente e seus miolos se espalharam pelos destroços da casa.

Quem achou que Santiago se safaria dessa, estava muito enganado. Pouco antes de ele estourar os miolos da vaca “desgramenta”, outra apareceu, viu a cena e mugiu como se estivesse chamando as outras vacas. E realmente estava, porque logo em seguida um ataque maciço começou aos alicerces da casa que desabou em pouco tempo. Santiago morreu debaixo dos escombros.

O ataque na America do Sul começou em Goiás, na região centro-oeste do Brasil. As vacas fizeram questão de desviar do caminho quando notaram um casal tomando banho de cachoeira na Chapada dos Veadeiros. Elas cercaram a cachoeira e a invadiram por todos os lados. Gustavo só teve o tempo de gritar um “mas que porra é isso” e Lúcia, um grito de socorro em vão, quando elas partiram para cima deles. Depois disso, o resto das pessoas que estavam por ali e logo estariam em Goiânia,

Do outro lado do mundo, no interior da China, quando um monte de camponeses alegremente cultivavam suas plantações, entoando canções que seus avôs uma vez entoaram, foram pegos de surpresa pelas vacas loucas. Elas fizeram um grande circulo em volta deles, sem dar chance de escapatória, e depois avançaram furiosamente matando todos de forma fria e brutal. E assim foi em todos os cantos do mundo. África e Oceania com certeza não estariam imunes.

Os exércitos de todo mundo apesar de fortes e numerosos atacavam sem muito êxito. A quantidade de vacas no mundo parecia ter aumentado drasticamente. E a cada minuto, apareciam mais e mais, como se elas tivessem se multiplicando infinitamente. Agora sim o pandemônio estava feito.

Seis meses depois do inicio do ataque, as vacas tinham dominado toda a America do Sul e África. Um ano depois dominaram boa parte Europa e America do Norte que apesar de tudo ainda tinha a melhor defesa do mundo. Com menos de dois anos dominaram o resto do Europa e America do Norte e a maioria da Ásia. Até em locais que as vacas pareciam não existir, elas apareciam. Elas estavam em todo lugar - falavam até que era uma praga que Deus enviou por falta da gratidão dos humanos. E pareciam planejar tudo minuciosamente. Atacar e conquistar deviam ser o lema delas.

E não precisou mais que três anos para que o mundo fosse completamente dominado. Até os outros animais as vacas matavam. Cachorros, gatos, girafas. Nada escapava delas. Se alguém tivesse condições de olhar a terra por cima, veria uma imensidão de vacas no meio de escombros e corpos mutilados. Na verdade, só veria praticamente vacas. O resto, digamos assim, era realmente o resto.

Os poucos humanos que restavam viviam escondidos e assustados com medo das vacas assassinas, basicamente esperando a morte chegar. Porque se o exército que era muito poderoso não conseguiu vencê-las, como diabos um bando de refugiados ia conseguir? Na verdade, essa pergunta tinha se tornada supérflua ao longo dos meses e anos. Alguns simplesmente se matavam e os outros criavam falsas esperanças de que um dia eles iam matar todas aquelas vacas malditas e que pudessem viver uma vida normal novamente. Mas a pergunta que realmente ficava e que só se calou quando o ultimo humano deu seu ultimo suspiro, foi porque as vacas estavam agindo daquela forma. E é claro, nunca foi respondida.

FIM

terça-feira, 15 de abril de 2008

A História de João Ninguém

O pequeno relógio de ponteiro na mesa de cabeceira marcava meia-noite, quando João Ninguém, como era a chamado há uns seis meses, se levantou da cama para realizar o ato que achava que nunca realizaria na vida. E com certeza o mais difícil deles. Ele queria que todos estivessem dormindo para não ter motivos para imprevistos. Foi até a cozinha, pegou uma garrafa com água na geladeira, pegou um copo e a despejou nele. Depois que tomou aquela água pura e gelada, se tocou que não tinha havido necessidade de fazê-lo. Para onde estava indo não ia precisar mais daquilo, nem mais de nada daquele lugar.

João abriu a porta de trás da casa que dava para o quintal e um leve ar frio bateu no seu rosto. Ele fechou os olhos por um momento, como se só assim conseguisse saborear completamente aquela brisa noturna. A última brisa noturna que ia sentir. Depois disso pegou um banquinho. Aquele banquinho que tinha sido usado em muitas festas que tiveram naquela casa. E também, apenas para sentar, enquanto João se embebedava toda noite a seis meses. E então seguiu em direção a mangueira. Aquela mangueira que sempre dava frutas doces e saborosas e fazia sombra para seus filhos pudessem brincar riam brincar de carrinho ou de outro tipo de brincadeira de criança. E agora ela ia ter outro propósito. Um que ele achou que ela nunca teria. Ele jurava por Deus que não.

Ele olhou para o Céu que quase não tinha estrelas. E a lua parecia estar escondida em algum lugar daquela imensidão sem fim, pois ele não conseguia ver. E por causa disso a noite parecia estar mais escura. Colocou o banquinho embaixo da corda que ele amarara na árvore um pouco antes de ir dormir e subiu nele. Olhou para o céu mais uma vez, e imaginou se ele iria lá pra cima ou ia descer para ficar junto com o capeta. Achava que seria bem mais fácil ir lá pra baixo mesmo. Colocou a corda entre o pescoço, apertou-a, fechou os olhos e disse: Adeus, mundo Cruel. Chutou o banco, a corda fez força e começou a ferir seu pescoço e a enforcá-lo. João sentia o ar rapidamente abandonar seus pulmões e iniciou uma contorção que na verdade só fazia ajudar a corda apertar mais seu pescoço. O rosto dele estava muito vermelho e seus olhos pareciam que iam explodir a qualquer momento.

Na sua face estava estampado um misto de medo, sofrimento e arrependimento. Mas não havia mais tempo para se arrepender daquele ato insano e doentio. A hora infelizmente já havia passado. E para João só restava morrer logo de uma vez para não sofrer mais. E foi o que aconteceu. Não demorou muito mais que alguns segundos, apesar de que para João demorou bem mais que isso, até que o ar abandonasse completamente seus pulmões e ele apagasse completamente. Mas então, João abriu lentamente os olhos...

Mas não estava mais em sua casa. A corda tinha sumido do seu pescoço, apesar da dor e do vermelhão continuar. E sua casa fora trocada por um campo verde. O céu estava completamente aberto, sem nuvens. Não tinha a mínima noção de onde estava e de quanto tempo estava apagado. Dormindo. Morto? Ele não sabia na verdade qual dessas palavras se encaixava melhor naquela situação. Levantou-se e olhou em volta. Aquele campo verde e plano parecia não ter fim. Nada de montanhas, de rios ou lagos. Ou estradas, Casas. Nada. Só o gramado. Não tinha a mínima idéia para onde ir porque tudo parecia igual. Então achou que aquilo devia ser um sonho. Porque realidade era que não podia ser. Mas não podia estar sonhando. Porque pelo que ele se lembrava, a última coisa que ele fez foi colocar uma corda no pescoço e dar adeus ao mundo. Então, pensando melhor agora, ele só poderia estar morto e aquilo ali só poderia ser o céu, já que aparentemente não parecia ter fogo, nem demoniozinhos com aqueles tridentes para torturá-lo. Mas também não havia anjos. Na verdade não havia ninguém, nem nada. Só aquele verde infinito. Será que aquilo era um lugar especial para os suicidas, ele pensou. Só podia ser. Deus não devia gostar de suicidas então os deixavam aprisionados em um lugar sem fim e sem nada, para sofrer para o resto da eternidade. Mas ai, João ouviu uma voz clamando seu nome.

“JOÃO, JOÃO,”. A voz tinha um tom de reprovação e parecia vir de todo o lugar ou de lugar nenhum. “Porque fizestes isso, João?”

João olhou em volta assustado e não conseguiu ver nada e acabou por perguntar: “Quem é você e porque eu não consigo vê-lo?”.

Assim como você, eu também me chamo João, e estou bem aqui atrás de você. A voz agora, realmente parecia estar vindo de trás de João Ninguém, e então ele se virou e viu um senhor baixo, devia ter 1.60 de altura no máximo, com uma enorme barba branca.

E como o senhor apareceu ai, João Ninguém perguntou agora bem mais assustado do que antes.

Eu tenho muitos truques, João. Truques que talvez você vá conhecer ou não. Ele respondeu dando um sorriso que parecia meio debochado.

Você é Deus, João Ninguém perguntou.

Deus, ele falou com os olhos vagos como se tivesse se fazendo a mesma pergunta. Ah, é assim como vocês me chamam na terra não é, ele perguntou.

Se for quem eu to pensando que é, é sim senhor. Que lugar é esse, como eu vim parar aqui, o que o senhor faz aqui em pessoa, e porque você se chama João, ele continuou.

Uma pergunta de cada vez, João. Ele disse sorrindo novamente.

Desculpe senhor. Deus, apenas sorriu novamente.

Sobre a primeira pergunta: Esse é um lugar que eu venho muito quando eu preciso ficar sozinho. Um lugar tranqüilo que eu gosto muito. Eu tenho muitos problemas sabe João. Cuidar do mundo não é uma tarefa fácil e sempre tem gente me importunando. Então eu preciso de um lugar para ficar sozinho às vezes. João Ninguém apenas o olhava incrédulo. Não acreditava que estava na frente do próprio Deus e que ele também se chamava João.

A segunda e a terceira perguntas eu vou responder de uma vez só, ele falou. Eu lhe trouxe para cá, porque é um lugar tranqüilo, para conversar com você e lhe mostrar quanta falta você faz na terra.

Eu fazer falta, senhor, perguntou João Ninguém. Mas como isso é possível? Eu já estou há quase um ano sem trabalhar, vivendo à custa da minha mulher. E há mais de três meses eu virei um homem que só faz beber. Não procuro mais emprego e mal dou atenção a minha mulher que não me agüenta mais e a meus filhos que mal me reconhecem mais.

“Eu sei João. Não precisa me contar. Porque eu sei de tudo que aconteceu. Eu acompanho a sua vida desde o seu nascimento. Não só a sua, mas de todo mundo que está na terra. Eu sei também que nesse ultimo ano, a vida não foi justa com você, mas você pouco se esforçou para mudá-la. E se entregou rápido demais. Mas nem sempre a vida é justa meu filho. Nem sempre. Você não é o único que sofre no mundo, tenha certeza disso”.

Mas porque o senhor não fez nada para me ajudar, Deus, porque, ele perguntou.

“Porque eu dei o livre arbítrio a todos. Não posso estar interferindo toda à hora na vida das pessoas. E eu só ajudo aos esforçados, João. Você não estava sendo esforçado e não merecia minha atenção. Outros milhões de pessoas estavam precisando antes. E elas faziam por merecer”.

João Ninguém não sabia o que falar e apenas ficou calado. Realmente ele não tinha se esforçado muito para arranjar trabalho. Depois que foi demitido da oficina por bater no seu chefe, porque não queria receber uma ordem, tentou por alguns meses arrumar outro trabalho como mecânico, mas não conseguiu. Ele sempre foi muito brigão e beberrão. Sua fama já era grande naquela pequena cidade e ninguém queria contratá-lo mais. Acabou perdendo a vontade de trabalhar e toda noite estava nos bares da cidade bebendo com seus amigos para esquecer a vida. Até que um dia era só o que ele estava fazia. Enquanto sua mulher trabalhava diariamente como vendedora numa loja de sapatos para botar comida em casa, e seus dois filhos: Pedro de sete anos e Marcos de dez, apenas estudavam num colégio estadual.

“Antes de mostrar tudo que aconteceu depois da sua morte, eu vou lhe responder a ultima pergunta. Não, João, eu não me esqueci dela. Sobre meu nome não, é?” João Ninguém assentiu.

Ah, todo mundo tem um nome não é, ele perguntou com aquele usual sorriso. Até os Deuses.

Mas um nome tão simples assim?

Mas é um nome tão bonito, não achas, Deus perguntou. Ou você não gosta do seu próprio nome João?

Gosto sim senhor, ele respondeu prontamente. E achou que não deveria tocar mais nesse assunto.

Agora João, vamos ao que interessa, disse Deus. E então os dois como num passe de mágica, sumiram e apareceram numa sala pequena com muitas pessoas vestidas de preto, algumas chorando, outras rezando e outras apenas contemplando o caixão que havia no centro dela, com um olhar vago e triste. Os dois pareciam estar flutuando e ninguém parecia notar a presença deles, apesar de estarem praticamente em cima da cabeça de uma pessoa que João Ninguém reconhecia muito bem. Beto, parceiro de cachaça. E não demorou muito para que João Ninguém reconhecesse o resto das pessoas que estavam ali e também quem estava no caixão. Seus amigos de onde ele trabalhava. Seus parceiros do futebol. Sua mulher, seus dois filhos e muitas outras pessoas. E notou também que quem habitava o caixão era ele próprio. E isso o deu calafrios, porque ele nunca pensou que ele se veria no seu próprio velório.

Isso é só o começo, João. Não vou lhe mostrar a hora em que você foi achado morto, porque nem eu gosto de ver essa cena e também porque o que eu vou lhe mostrar a seguir será suficiente. Então eles sumiram de novo e dessa vez apareceram numa rua bem movimentada. Uma rua que João conhecia muito bem. Era o centro da cidade que ele morava. Ele notou que seus dois filhos pediam esmola no sinal, enquanto sua mulher vendia algumas jóias ali perto. Seu coração bateu tão forte que parecia que ia explodir e lágrimas começam a cair do seu rosto. O que ele achou estranho por ele achava que mortos não choravam nem tinham coração. Ele olhou para Deus a procura de uma resposta, e Deus apesar de parecer entender a sua duvida não achou relevante tira-la. Pelo menos não naquele momento.

Tudo acontece pouco mais de quatro meses depois da sua morte. Com dois meses que você se foi, sua mulher perdeu o emprego. Não conseguia mais trabalhar porque a tristeza tomou conta dela de uma forma que nem eu imaginava que tomaria quando você morresse, e então foi demitida. Seus filhos tiveram que abandonar o colégio para tentar ajudar a mãe a conseguir dinheiro. E agora os três moram de favor na casa da Dona Perpétua, porque não tem dinheiro suficiente para pagar o aluguel. Lembra da Dona Perpétua?

Ele assentiu com a cabeça. Sim, ele lembrava. Dona Perpétua era uma viúva idosa que vivia da aposentadoria do marido e morava sozinha. Ela morava ali perto da casa de João Ninguém e sua esposa Marisa, que sempre ajudava muito Dona Perpétua que já não tinha muitas forças para fazer alguns trabalhos pesados por causa da idade avançada.

“Pois é, João. Depois que você abandonou o mundo, sua família se desestruturou e agora eles vivem praticamente no meio da rua. Você era apenas um João Ninguém como começaram a lhe chamar, mas você era o alicerce da sua família. Sem você eles não sobreviviam. Apesar de tudo eles gostavam muito de você. Você não via, mas quase toda a noite sua mulher chorava me pedindo para que eu lhe arrumasse um emprego. Para que eu lhe tirasse daquela vida sem objetivos. Sua mulher nunca realmente lhe quis fora de casa. Era apenas raiva do momento. Mas como eu disse, eu não poderia lhe colocar para frente da fila. Não seria justo com as outras pessoas. Pessoas estas que lutavam para sobreviver. Eu não poderia fazer isso apenas porque sua mulher queria. Você tinha que querer também. E você não queria”.

João não sabia o que falar, apenas ficou calado ouvindo as palavras de Deus. Ele não sabia que ele era tão importante para sua família mesmo depois de tudo que ele tinha feito. E agora mais do que nunca se sentia arrependido. Queria voltar pra ajudar eles. Tira-los daquela situação que supostamente ele os tinha colocado. Precisava urgentemente voltar.
Ele olhou para Deus e disse: eu preciso voltar, eu preciso voltar Deus. Eu não posso deixar minha família sofrendo desse jeito.

Mas você esta morto, João, disse Deus. Você está morto.

Mas tem que haver um jeito. Porque eu estou aqui afinal. Porque você está me mostrando tudo isso. Apenas para eu me sentir mal, João perguntou furiosamente. Eu não acredito que o senhor seria capaz disso. O mesmo tom de fúria ainda continuava em suas palavras.

Calma, João. Não precisa descontar em mim sua raiva. Eu não tenho culpa. É simplesmente como a vida é. Mas eu vou ajudar sua família. E para isso eu vou ter que te mandar de volta. Eu vou te dar uma segunda chance, João. Uma chance de refazer sua vida. Porque no fundo eu sei que você é uma pessoa boa. E é por isso que estamos aqui hoje.

João deu um grande sorriso e abraçou Deus agradecendo-o. Deus apenas de um leve tapa em suas costas e disse: Mas eu quero que você me prometa algumas coisas.

Qualquer coisa, senhor, disse João todo feliz. Qualquer coisa.

Assim que amanhecer o dia, você vai recomeçar sua busca por um emprego. Vai deixar de beber e brigar e vai começar a dar mais atenção a seus filhos e a sua mulher. Se você não cumprir a promessa, você vai ser trazido de volta pra cá e sua família vai sofrer as conseqüências por sua culpa.

Tudo bem, senhor. Eu vou procurar emprego. Vou dar mais atenção a minha família e vou parar de beber. Quer que eu faça mais alguma coisa, senhor?

Não, João. Por enquanto acho que isso é mais que o suficiente. Adeus e boa sorte. Então, Deus sumiu antes de João Ninguém desejar retribuir o adeus.

João começou a se sentir sonolento e deitou na grama. E então dormiu. Quando acordou, estava deitado em sua cama e o ponteiro marcava meia noite. Andou até o quintal da casa e a corda estava lá pendurada. Será que tudo aquilo tinha sido um sonho ou tinha sido real, ele se perguntou. Será que realmente ele tinha se encontrado com Deus? Tudo tinha sido tão vivido. Mas ele não sabia e nem queria descobrir. Então foi até a mangueira e desamarrou a corda. Jogou ela de lado e voltou para dentro da casa. Tomou um copo com água bem gelada e foi para o quarto. Deu um beijo na testa mulher e prometeu a si próprio, mesmo não sabendo que se aquilo tinha acontecido ou não, que ia cumprir tudo o que tinha prometido no sonho ou em sua rápida morte.

FIM